Apanhando as canas...
A taça para a Itália, a bola de ouro para um francês, o prémio de melhor jogador jovem para um alemão, e para Portugal a distinção do futebol mais atraente (ou empolgante, segundo as traduções). Que lindo (e conveniente) ramalhete! A FIFA e os jogos de interesses que, como ironicamente Carlos Godinho (da FPF) sublinha, faz com que um país pequeno não tenha direito a sentar as esposas dos jogadores nas tribunas de honra, ou os seus adeptos anónimos nas bancadas melhores... todos imaginamos que o resto do icebergue é o que realmente faz a diferença para o sucesso da nossa selecção nos grandes palcos.
Constatamos, assim, que ter o futebol mais bonito de ver não dá acesso à final. O futebol forte e feio, ou então o da aldrabice, passam à frente. Não devia ser assim. Na final, mais um penalty inventado pela França, desta vez por Malouda, no longo rosário de coelhos que saem da cartola de Domenech. Ainda bem que os italianos conseguiram emendar a situação, e isso, apenas isso, explica a fúria de Zidane contra o que lhes marcou o golo do empate. Pressentiu que iam perder a penaltis... Foi tão bom ver a festa dos italianos, irreverentes, como o melão com que ficaram os franceses, a começar pelo detestável treinador. Aquele gajo não presta mesmo: à saída do palco de entrega dos prémios e apertos de mão, ele não só se apressou a tirar a medalha de prata do pescoço como logo a seguir limpou à aba do casaco a mão direita com que teve de cumprimentar os responsáveis no pódio (ó supremo sacrifício...). Quando há mau perder e sobretudo uma personalidade reles, não há óculos de marca que salvem o verniz, ele estala mesmo. Mas é de jogador batoteiro, mesmo. Muitos disseram neste país: com penaltis se mata, e com penaltis se morre. Bem feita!
A lógica havia de ser dar a bola de ouro (melhor jogador do torneio) a Pirlo. Mas dá-la a um jogador que, como Zidane, agride de maneira tão selvagem um adversário, é o mesmo que dar a Weah, actualmente um político importante da pobre Libéria, o prémio de fair-play logo a seguir a ter despedaçado o nariz do Jorge Costa numa emboscada na zona mista. Coisas destas não são falta de memória, são antes o cumprimento e acordos previamente estabelecidos. Com as máfias não se volta atrás, negócio fechado é mesmo para se cumprir.
Todo este panorama explica como os franceses sentiam que tinham carta branca para insultar os adversários fora de campo, para os intimidar fisicamente dentro dele (não se pode nunca esquecer a maneira como Vieira carregou sobre Figo e o pôs de maca, isto sem um cartão amarelo sequer), e para fabricar penaltis "à la carte". Porquê esta permissividade? Quem, além da França, ganha com tanta batota?
Scolari é outro tema indigesto. Tal é a obsessão de fazer brilhar o Deco, que tira o Figo de titular no jogo para o 3º lugar. Para perdermos, claro, mas ele até nem é Português... Tal como o Deco, esse vê-se mesmo que não "veste" a nossa camisola, é aliás o único que não aprendeu o hino «A Portuguesa». Na selecção nacional tem sido mais um peso morto do que uma mais-valia. Lá entrou o Figo, que teve a descortesia de não se mostrar lesionado do jogo anterior, e salvou-se a honra com um golo de bom efeito marcado pelo Nuno Gomes (mais um mal-amado de Scolari, deve ter-lhe ciúmes por ser bonito), e servido por quem? Pelo Luís Figo. Enquanto Zidane saiu de cena às marradas, Figo saiu ajudando a marcar-se mais um golo (e o Kahn que pensava que não ia entrar nenhuma, eh eh). Muito apropriado para um dos maiores jogadores portugueses de sempre.
Portugal fez melhor do que se esperava, e admito que a capacidade organizadora da equipa técnica tenha contribuído muito para o bom nível a que se apresentaram. Mas no campo, Scolari foi sempre um desastre. Para além do tabu chamado Deco, não tomou as decisões tácticas que se impunham (excepção feita a emendar a mão contra a Alemanha, permitindo a entrada de Figo).
O futebol anda muito viciado por jogos de bastidores, mas a Itália e outras boas equipas deste mundial (não só na arte mas na correcção, destaco pelo menos a Alemanha, Portugal e a Argentina) redimiram-no dentro das quatro linhas. Teve pontos de grande interesse, espera-se para futuro cada vez mais brilhantismo das equipas, e já agora com menos jogos decididos a penaltis.
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