Monday, July 10, 2006

Apanhando as canas...

A taça para a Itália, a bola de ouro para um francês, o prémio de melhor jogador jovem para um alemão, e para Portugal a distinção do futebol mais atraente (ou empolgante, segundo as traduções). Que lindo (e conveniente) ramalhete! A FIFA e os jogos de interesses que, como ironicamente Carlos Godinho (da FPF) sublinha, faz com que um país pequeno não tenha direito a sentar as esposas dos jogadores nas tribunas de honra, ou os seus adeptos anónimos nas bancadas melhores... todos imaginamos que o resto do icebergue é o que realmente faz a diferença para o sucesso da nossa selecção nos grandes palcos.

Constatamos, assim, que ter o futebol mais bonito de ver não dá acesso à final. O futebol forte e feio, ou então o da aldrabice, passam à frente. Não devia ser assim. Na final, mais um penalty inventado pela França, desta vez por Malouda, no longo rosário de coelhos que saem da cartola de Domenech. Ainda bem que os italianos conseguiram emendar a situação, e isso, apenas isso, explica a fúria de Zidane contra o que lhes marcou o golo do empate. Pressentiu que iam perder a penaltis... Foi tão bom ver a festa dos italianos, irreverentes, como o melão com que ficaram os franceses, a começar pelo detestável treinador. Aquele gajo não presta mesmo: à saída do palco de entrega dos prémios e apertos de mão, ele não só se apressou a tirar a medalha de prata do pescoço como logo a seguir limpou à aba do casaco a mão direita com que teve de cumprimentar os responsáveis no pódio (ó supremo sacrifício...). Quando há mau perder e sobretudo uma personalidade reles, não há óculos de marca que salvem o verniz, ele estala mesmo. Mas é de jogador batoteiro, mesmo. Muitos disseram neste país: com penaltis se mata, e com penaltis se morre. Bem feita!

A lógica havia de ser dar a bola de ouro (melhor jogador do torneio) a Pirlo. Mas dá-la a um jogador que, como Zidane, agride de maneira tão selvagem um adversário, é o mesmo que dar a Weah, actualmente um político importante da pobre Libéria, o prémio de fair-play logo a seguir a ter despedaçado o nariz do Jorge Costa numa emboscada na zona mista. Coisas destas não são falta de memória, são antes o cumprimento e acordos previamente estabelecidos. Com as máfias não se volta atrás, negócio fechado é mesmo para se cumprir.

Todo este panorama explica como os franceses sentiam que tinham carta branca para insultar os adversários fora de campo, para os intimidar fisicamente dentro dele (não se pode nunca esquecer a maneira como Vieira carregou sobre Figo e o pôs de maca, isto sem um cartão amarelo sequer), e para fabricar penaltis "à la carte". Porquê esta permissividade? Quem, além da França, ganha com tanta batota?

Scolari é outro tema indigesto. Tal é a obsessão de fazer brilhar o Deco, que tira o Figo de titular no jogo para o 3º lugar. Para perdermos, claro, mas ele até nem é Português... Tal como o Deco, esse vê-se mesmo que não "veste" a nossa camisola, é aliás o único que não aprendeu o hino «A Portuguesa». Na selecção nacional tem sido mais um peso morto do que uma mais-valia. Lá entrou o Figo, que teve a descortesia de não se mostrar lesionado do jogo anterior, e salvou-se a honra com um golo de bom efeito marcado pelo Nuno Gomes (mais um mal-amado de Scolari, deve ter-lhe ciúmes por ser bonito), e servido por quem? Pelo Luís Figo. Enquanto Zidane saiu de cena às marradas, Figo saiu ajudando a marcar-se mais um golo (e o Kahn que pensava que não ia entrar nenhuma, eh eh). Muito apropriado para um dos maiores jogadores portugueses de sempre.

Portugal fez melhor do que se esperava, e admito que a capacidade organizadora da equipa técnica tenha contribuído muito para o bom nível a que se apresentaram. Mas no campo, Scolari foi sempre um desastre. Para além do tabu chamado Deco, não tomou as decisões tácticas que se impunham (excepção feita a emendar a mão contra a Alemanha, permitindo a entrada de Figo).

O futebol anda muito viciado por jogos de bastidores, mas a Itália e outras boas equipas deste mundial (não só na arte mas na correcção, destaco pelo menos a Alemanha, Portugal e a Argentina) redimiram-no dentro das quatro linhas. Teve pontos de grande interesse, espera-se para futuro cada vez mais brilhantismo das equipas, e já agora com menos jogos decididos a penaltis.

Wednesday, July 05, 2006

É maior o demérito nosso do que o mérito da França

A França deu-se ao luxo de desinteressar-se pela nossa baliza e mesmo assim não conseguimos tirar partido da iniciativa que nos era dada? Bem que fizemos um esforço, mas no essencial não tivemos arte para levar a bola às malhas (interiores) da baliza de Barthez. E, sendo assim, não merecemos ir à final. O resto é conversa.

Dessa conversa pode dizer-se que a França abriu a porta para a baliza de Ricardo com uma chave falsa. O Ricardo Carvalho tem razão em protestar: o árbitro deixou-se enganar por Henry, o toque não foi no pé de apoio e não impedia o atacante de avançar. Mas que dizer da quantidade de simulações de penalti que Cristiano e Postiga fizeram? Tiram-nos a moral toda nesta história. E ainda por cima, os franceses é que a fazem bem feita, temos muito que aprender até na simulação de penaltis.

Portugal teve do melhor e do pior, a saber:

Magníficos: Ricardo (seguro, boas defesas, o Zidane não lhe deu hipótese no penalti), Miguel (intransponível, acutilante no ataque, foi lesionar-se logo na melhor jogada que teve, é má sina), Meira (um senhor na defesa e com mobilidade para ir à frente, é pena aquele pontapé de ressaca não ter sido melhor executado), Ricardo Carvalho (o mesmo de sempre, impecável nos cortes e nas coberturas, e não fez penalti sobre Henry), Nuno Valente (exímio na defesa, bom a avançar, é pena os cruzamentos mal dirigidos) e Costinha (meteu Zidane no bolso).

Com bons momentos mas em geral desinspirados: Maniche (só no arranque da partida, depois apagou-se), Cristiano (para além da arte nos dribles, muitas vezes inconsequentes, houve aquele remate à figura de Barthez a proporcionar a Figo um cabeceamento que era para golo, é também má sina, mas a mania de simular faltas deu toda a razão a quem o criticava, tem de emendar-se), Deco (fez um remate venenoso logo de início e desapareceu do jogo a partir daí) e Figo (sempre lutador, construiu muita coisa boa em especial na 1ª parte, mas afunilava mais para Cristiano do que devia e não teve os colegas à altura).

Sem acrescentarem grande coisa, nem comprometerem: Pauleta (pouco solicitado ou mal servido, a culpa era do esquema táctico que o deixava demasiado isolado), Paulo Ferreira e Simão.

Desastrosos: Hélder Postiga (só simulou faltas e ainda por cima foi atrapalhar Figo naquela jogada do cabeceamento, como é possível!?) e Scolari (Deco para ele é uma vaca sagrada, devia tê-lo substituído a seguir ao golo francês, e o esquema táctico foi uma treta, afinal para que quer ele o Pauleta, e ainda por cima substitui-o por Simão para pôr o Cristiano a ponta-de-lança????).

Os franceses mostraram respeito pela nossa equipa e penso que a nossa presença teve no geral muito mérito. Houve outras boas equipas que, por terem de enfrentar a Alemanha em fases anteriores, soçobraram mais cedo mas com honra (a Suécia e a Argentina). Portugal fez um bom campeonato. Se tiver mais mérito frente à Alemanha do que teve hoje, pode até ser que consiga o 3º lugar, não é de excluir.

O que está para vir a partir daqui, com ou sem Scolari? Acredito que está na calha uma nova geração de oiro, e a equipa que esteve na Alemanha deverá inspirar as futuras selecções para epopeias futuras. Portugal é um país de bom futebol.

Uma nota antes da semifinal com a França

A geração de oiro que emergiu dos Sub-21 de Riyad, em 1989, tal como a sua congénere Jugoslava vencedora no Chile em 1987, foi um alvo a abater. Mais ainda o passou a ser, com a repetição da vitória em 1991. Isso tornou-se evidente em 2000 e 2002, e já antes pela maneira como fomos eliminados do apuramento para 1998, em Berlim. Se houve nomes como Pauleta e Figo que passaram mais ou menos incólumes por tudo aquilo que, de fora como de dentro, se fez para que a selecção A não colhesse os frutos da sua geração de oiro, outros houve que foram muito prejudicados e das mais diversas maneiras — Rui Costa, Abel Xavier, Kenedy, só para citar casos mais evidentes.

E porquê? Porque o negócio do futebol vê em mavericks como Portugal (e a Jugoslávia de então) um empecilho para os grandes lucros que as grandes vitórias podem trazer nos países mais ricos (Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Estados Unidos, Austrália, Japão). Em 1998 e 2000 isso resultou nas vitórias de treta conseguidas pela França. De treta, porque consentidas pelos adversários (sobretudo em 1998 isso foi evidente, mas nós que o digamos em 2000). Em 2002 foi o que se viu com Portugal, o seleccionador António Oliveira retirando-se a coxear depois da derrota com a Coreia e dizendo entre dentes «ao menos salva-se o negócio». Em 2004 deram-nos o rebuçado da final, mas também já só restava Figo e Fernando Couto.

Mourinho vaticinou a nossa derrota com a Holanda, muitos nem pensaram sequer na possibilidade de ultrapassarmos a Inglaterra, agora toda a gente se cala. Excepto a França, com medo de perder. Eu próprio me rendi à evolução desta selecção desde que começaram a jogar neste mundial. A tal geração intermédia, que não tinha dado nas vistas nas fases jovens (a carreira de Pauleta é o exemplo máximo de humildade e sacrifício, até chegar ao Bordéus onde tem conquistado várias vezes o título de melhor jogador do campeonato), se com uma ponta de arte a menos que a geração de Paulo Sousa, Pedro Barbosa, Fernando Couto, Paulo Bento, Vítor Baía, Figo, Rui Costa, João Pinto, tem o benefício da maturidade que ao longo dos anos a instituição selecção A foi ganhando. E joga com a garra, coesão e consistência que raramente tivemos no passado.

Há quem dê loas a Scolari pela carreira desta selecção. Para mim, ou o Scolari conseguiu com a selecção portuguesa aquilo que obviamente não conseguiu com a do Brasil em 2002 (como disse muito bem Maradona na altura, não houve boas equipas, e o Brasil valeu-se de alguns valores individuais para ganhar), ou existe algo mais que atravessou estes tempos muito complicados de emoções desencontradas. Inevitavelmente, há que lembrar a maneira como Carlos Queiroz saiu de seleccionador nacional, quando se deixou das falas mansas habituais para dizer que a Federação Portuguesa de Futebol tinha de mudar. E, sem tirar os méritos a Scolari, é por aí que eu vou quando vejo a carreira da selecção A neste mundial: o estágio em Évora, as bocas de Madail sobre o atraso do autocarro na auto-estrada, e o sangue-frio dos jogadores em campo, são pontas de um iceberg que talvez se tenha formado a partir da conquista do direito a organizar o Euro 2004: é óbvio que se concretizou uma nova maneira de estar na impecável realização com que a FPF honrou esse direito, e gradualmente a equipa tem vindo a beneficiar disso. Se isso veio ao encontro dos relatórios que Queiroz ia fazendo na altura, é possível, o que importa mesmo é esta nova maneira de estar.

Perante isso, só resta olhar para aos clubes de futebol e para a Liga e dizer-lhes: aprendam com a FPF, mudem a partir de dentro, e talvez o nosso campeonato também venha a ser melhor. Assim, terão as bancadas cheias mesmo quando não é jogo grande.

Tuesday, July 04, 2006

O espectáculo começa aos 110 minutos

A Alemanha e a Itália são duas excelentes equipas. Os valores individuais são de grande nível, mas os conjuntos são duma coesão e solidez formidáveis, e esse é o maior valor. Na meia-final que disputaram, pareciam dois sistemas que se anulavam mutuamente, mas quando já se entrevia essa condenação do futebol que é o zero a zero, e àparte aquelas duas bolas no ferro da Alemanha no princípio do prolongamento, de repente a emoção irrompeu. Foi como que a dizer-se, isto não pode ir a penaltis, o valor destas equipas é demasiado elevado para resolver-se no que já não é jogo. E assim o futebol dos treinadores deu lugar ao futebol dos jogadores.

Nos dez minutos finais, de parte a parte, houve espectáculo. No futebol dos jogadores, a Itália teve mais argumentos, e traduziu uma ligeira superioridade (e maior correcção disciplinar) nos dois magníficos golos que surgiram nesse período. Mas a Alemanha teve grande mérito; a Mannschaft de Klinsmann é para mim a melhor desde os tempos de Beckenbauer-jogador, e tenho a certeza que os italianos souberam desportivamente reconhecer o grande valor que teve para eles jogarem com os anfitriões.

Saiba Portugal mostrar méritos deste nível, quer no sábado contra a Alemanha, quer (preferivelmente) no domingo frente à Itália.

France la gaffe

M. Thuram nous entretient avec ses fautes de mémoire sur la polémique du match avec le Portugal, en France, 2000. Même face aux convictions de M. Ribery sur le "joueur" Scolari, sa pose d'intélectuel télécommandé est la plus géniale, il se dépasse. Mais ce qui compte, c'est que l'équipe de la France a du peur. Spécialement parce que beaucoup des acteurs d'autri sont encore sur le camp, et risquent d'être humiliés avant de prendre la retraite.

Monday, July 03, 2006

Brasil-decepção, França-renascida

Alguém acreditaria que nos quartos-de-final o Brasil quase não remataria à baliza? Se se vir bem a carreira que fizeram anteriormente, e com uma França que exorcisou, frente à Espanha, os fantasmas da Coreia/Japão, não admira — embora seja muito, muito triste. Equipa inconsistente, com meio-campo só atacante, embotada de ideias (que saudades do Rivaldo!) e demasiado confiada na (boa) defesa — um contra-senso, tratando-se do Brasil. A França, exímia exploradora de falhas de marcação, aproveitou uma, aliás escandalosa, e marcou. Mas não é que isto faz lembrar uma Grécia de má memória? O futebol assim é muita luta e pouco espectáculo, não merece tanto esforço, é cínico.

Se na final de 98 houve treta na derrota por 2(+1) a 0, desta vez o Brasil só tem de aceitar que não merecia ir à final. Foi bem castigada a sua presunção de favas contadas a esse respeito. Parreira go home!

A França dá excelentes mostras de espírito de entreajuda e garra individual. Funcionam tão bem quanto no seu auge, que foi o Europeu de 2000, e além de nomes consagrados com Zidane, Barthez, Thuram ou Henry, causa-me muito boa impressão Ribery, pequeno mas ladino, lutador, objectivo, um desequilibrador. E há outros bons valores.

Este Mundial continua a prometer ser memorável, a começar pelo facto de se comprovar a justiça das 4 equipas melhores serem as que estão nos quartos-de-final. Todas europeias, por sinal.

Scolari tem de estudar bem a lição com a França (melhor do que fez com a Grécia); se a Inglaterra está habituada a perder contra nós, nós estamos habituados a perder contra a França (os europeus de 1984 e 2000). Tem de encontrar-se uma maneira de furar os esquemas demasiado defensivos que se vêm impondo a partir dos oitavos-de-final. Pelo menos para Portugal isso é o pior tipo de jogo possível, e em todo o caso é o espectáculo que perde.

Mas já fico mais descansado com a eliminação do Brasil: não queria ver o Scolari e o Deco a terem de enfrentá-los em representação de Portugal.

Sunday, July 02, 2006

Ricardo, o leão que come penalties ingleses

Carragher armou-se em esperto e revelou ao Ricardo, naquele penalty marcado antes do apito do árbitro, a manha que usava. Precipitação, mania de tentar fazer as coisas contra as regras? E é claro que o Ricardo defendeu (com a ajuda da barra) quando ele a mandou à segunda para o outro lado. Bem feita!

Mas foram 3 defesas ao todo. Notável! Se em 2004 andou a vê-las entrar (e uma a ir por cima), desta vez Ricardo teve uma enorme eficácia. Maturidade? Inspiração? Treino? O que é certo, é que depois do Petit mandar ao lado, Portugal estava em maus lençóis, e quem nos valeu foi o Ricardo. E a arte de marcadores impecáveis como Simão, Postiga (fenomenal a maneira como marca, aquela corrida em S deve fazer parte do segredo) e Cristiano.

A equipa de Portugal sai deste desafio dificílimo duplamente galvanizada: conseguiu mostrar a si própria novas reservas de valor, e vai ter Deco e Costinha novamente disponíveis. Desforras àparte, o desafio com a França vai ser de grande interesse para o futebol mundial.

Monday, June 26, 2006

Espírito de Aljubarrota

Portugal enfrentou a Holanda com uma maturidade e uma classe que são, junto com o magnífico golo construído a 4 (Cristiano, Deco, Pauleta e Maniche), a nota duma inconfundível qualidade que faz os outros tremerem e nós adular. As escolhas de Costinha e Maniche, muito mais repousados que o restante grupo, estão a ser plenamente justificadas. Mas todos perguntamos, estupefactos: porque é que Costinha fez aquela intercepção? Porque aquilo era um campo de batalha, não um terreno de jogo. E, se o Cristiano saiu de campo com o choro na alma, não menos afectada ficou a restante equipa, pela revolta que lhes causou a agressão que ele sofreu (o mesmo bandido havia de ser expulso na sequência de cotovelada ao Figo, mas ele devia era ir logo expulso à primeira). Mas esse mesmo mecanismo de coesão foi o que valeu a uma equipa que passou a maior parte do 2º tempo em inferioridade numérica, e em todo o caso com o seu esquema táctico inviabilizado. Inferioridade, bem, talvez não. O magnífico 12º jogador, depois 11º, depois 10º, esteve bem presente: as bancadas de Nuremberga soavam em Português. Porque só havia uma equipa digna de apoio.
A Holanda foi a vergonha deste Mundial. Portugal tem desde já o mérito de ter corrido com aquela corja de sarrafeiros.

Uma homenagem à equipa do Gana

O empenhamento da FIFA em que se desenvolva o futebol em África tem a sua ambiguidade por visar apenas alimentar, de maneira neocolonialista, os clubes dos outros continentes (Europa, América do Norte, quem sabe se na Ásia também) de talentos isolados, outros Weah, Drogba, etc..
A verdade é que o futebol africano não existe. Não contando com o interessante futebol dos países árabes da orla Sul do Mediterrâneo, que não tem nada a ver com o que aqui se trata, o que aparece, periodicamente mas sem grande consistência, é uma ou outra equipa que joga o futebol que algum europeu vai lá ajudá-los a construir. A pujança física, a alegria incomparável, é africana, mas um sistema de jogo africano, uma estrutura organizativa e dirigente, não existem. Mas quem não se lembra dos Camarões em 90, ou a poderosa Nigéria de Kanu & Cia., que foi campeã olímpica com golo de Amunike?
Apesar da tentativa da Itália de ajudarem os EUA, os do Gana conseguiram ter a arte e o mérito de passar aos oitavos. São o caso deste mundial, e se foram bastante ingénuos com a Itália, de resto têm dado muito boa conta de si. Que possam chegar aos quartos-de-final, é o meu voto absolutamente parcial. Eu sei, eu sei, é contra o Brasil, e o Brasil está em boa forma, e eu gosto do Brasil. Mas quem se lembra do Gana, para além dos ganeses?

Thursday, June 22, 2006

Argentina a feijões

Tanto o jogo de Portugal com o México como o da Argentina com a Holanda eram mais ou menos a feijões, por isso foram cerca de 3 horas de quase chatice. Então o segundo foi mesmo a esconder jogo, especialmente a Argentina mesmo tendo uma grande maioria de titulares. E é essa Argentina, quer venhamos ou não a defrontar lá mais à frente, que vale a pena mesmo assim tentar entrever como jogam.
Primeiro que tudo fiquei impressionado com a correcção deles, em vivo contraste com o sarrafo laranja. Têm uma incrível segurança no controlo e protecção da bola, recuperam-na muito bem para continuar em jogo, e têm uma troca de bola em jogo rasteiro que é uma verdadeira teia de aranha para qualquer adversário. Uma simbiose admirável entre poder atlético e primor técnico, num esquema táctico perfeito. Aquela defesa é muito difícil de penetrar. Espero que o Scolari vá estudando a lição, melhor do que fez com a Grécia há 2 anos. Quanto à Holanda, é certo que vai sair de cena primeiro.
No jogo aéreo, à frente, os argentinos pareceram imprecisos, mas as incursões em corrida e os remates de distância são, em compensação, venenosos. Desde 1994 que a Argentina não era tão forte, e nessa altura foram sabotados, como sabemos. Desta vez Riquelme & Cª são muito mais frios e brincam com o sistema à vontade.
Lamento dizê-lo, o melhor que podemos esperar quando jogarmos com eles, como espero que venha a acontecer, é vender bem cara a derrota, mas que seja dentro das regras. E não há desonra nenhuma nessa derrota, se a verdade desportiva assim o ditar. Portugal tem muito ainda a mostrar e vai de certeza conseguir fazer coisas bonitas durante este Mundial.