Monday, June 26, 2006

Espírito de Aljubarrota

Portugal enfrentou a Holanda com uma maturidade e uma classe que são, junto com o magnífico golo construído a 4 (Cristiano, Deco, Pauleta e Maniche), a nota duma inconfundível qualidade que faz os outros tremerem e nós adular. As escolhas de Costinha e Maniche, muito mais repousados que o restante grupo, estão a ser plenamente justificadas. Mas todos perguntamos, estupefactos: porque é que Costinha fez aquela intercepção? Porque aquilo era um campo de batalha, não um terreno de jogo. E, se o Cristiano saiu de campo com o choro na alma, não menos afectada ficou a restante equipa, pela revolta que lhes causou a agressão que ele sofreu (o mesmo bandido havia de ser expulso na sequência de cotovelada ao Figo, mas ele devia era ir logo expulso à primeira). Mas esse mesmo mecanismo de coesão foi o que valeu a uma equipa que passou a maior parte do 2º tempo em inferioridade numérica, e em todo o caso com o seu esquema táctico inviabilizado. Inferioridade, bem, talvez não. O magnífico 12º jogador, depois 11º, depois 10º, esteve bem presente: as bancadas de Nuremberga soavam em Português. Porque só havia uma equipa digna de apoio.
A Holanda foi a vergonha deste Mundial. Portugal tem desde já o mérito de ter corrido com aquela corja de sarrafeiros.

Uma homenagem à equipa do Gana

O empenhamento da FIFA em que se desenvolva o futebol em África tem a sua ambiguidade por visar apenas alimentar, de maneira neocolonialista, os clubes dos outros continentes (Europa, América do Norte, quem sabe se na Ásia também) de talentos isolados, outros Weah, Drogba, etc..
A verdade é que o futebol africano não existe. Não contando com o interessante futebol dos países árabes da orla Sul do Mediterrâneo, que não tem nada a ver com o que aqui se trata, o que aparece, periodicamente mas sem grande consistência, é uma ou outra equipa que joga o futebol que algum europeu vai lá ajudá-los a construir. A pujança física, a alegria incomparável, é africana, mas um sistema de jogo africano, uma estrutura organizativa e dirigente, não existem. Mas quem não se lembra dos Camarões em 90, ou a poderosa Nigéria de Kanu & Cia., que foi campeã olímpica com golo de Amunike?
Apesar da tentativa da Itália de ajudarem os EUA, os do Gana conseguiram ter a arte e o mérito de passar aos oitavos. São o caso deste mundial, e se foram bastante ingénuos com a Itália, de resto têm dado muito boa conta de si. Que possam chegar aos quartos-de-final, é o meu voto absolutamente parcial. Eu sei, eu sei, é contra o Brasil, e o Brasil está em boa forma, e eu gosto do Brasil. Mas quem se lembra do Gana, para além dos ganeses?

Thursday, June 22, 2006

Argentina a feijões

Tanto o jogo de Portugal com o México como o da Argentina com a Holanda eram mais ou menos a feijões, por isso foram cerca de 3 horas de quase chatice. Então o segundo foi mesmo a esconder jogo, especialmente a Argentina mesmo tendo uma grande maioria de titulares. E é essa Argentina, quer venhamos ou não a defrontar lá mais à frente, que vale a pena mesmo assim tentar entrever como jogam.
Primeiro que tudo fiquei impressionado com a correcção deles, em vivo contraste com o sarrafo laranja. Têm uma incrível segurança no controlo e protecção da bola, recuperam-na muito bem para continuar em jogo, e têm uma troca de bola em jogo rasteiro que é uma verdadeira teia de aranha para qualquer adversário. Uma simbiose admirável entre poder atlético e primor técnico, num esquema táctico perfeito. Aquela defesa é muito difícil de penetrar. Espero que o Scolari vá estudando a lição, melhor do que fez com a Grécia há 2 anos. Quanto à Holanda, é certo que vai sair de cena primeiro.
No jogo aéreo, à frente, os argentinos pareceram imprecisos, mas as incursões em corrida e os remates de distância são, em compensação, venenosos. Desde 1994 que a Argentina não era tão forte, e nessa altura foram sabotados, como sabemos. Desta vez Riquelme & Cª são muito mais frios e brincam com o sistema à vontade.
Lamento dizê-lo, o melhor que podemos esperar quando jogarmos com eles, como espero que venha a acontecer, é vender bem cara a derrota, mas que seja dentro das regras. E não há desonra nenhuma nessa derrota, se a verdade desportiva assim o ditar. Portugal tem muito ainda a mostrar e vai de certeza conseguir fazer coisas bonitas durante este Mundial.

Wednesday, June 21, 2006

Adoro o Verão

É com o início da nova estação que começam algumas questões a colocar-se. O jogo de hoje com o xico vai ter muita importância em alguns aspectos. É certo que vamos tranquilos quanto ao objectivo imediato da qualificação para os oitavos-de-final, mas sobre objectivos maiores que esse alguma coisa se joga neste jogo: primeiro, o treinador fez apenas a obrigação dele em cancelar os cartões amarelos já acumulados; segundo, dá a oportunidade a 5 jogadores para marcarem a sua presença como titulares; terceiro, e isto é o que mais interessa, põe em acção uma equipa alternativa que tem de mostrar o que vale.
Ainda bem que não sabem quem é que do grupo da Argentina e Holanda vai ficar em primeiro. Assim, o único cálculo que têm de fazer é sobre como melhor ganhar ao México. Na minha maneira de ver, nada é mais importante do que só ter o sabor da vitória em todos os jogos. E, com uma equipa alternativa, conseguir a vitória sobre o México é conquistar mais alguma coisa em termos de auto-confiança. Assim talvez possamos encarar com igual segurança (mas nunca esquecendo o respeitinho) a Argentina como a Holanda. Venham todos, e as profecias do Mourinho que se danem!
Pelo que já se viu neste Mundial, o futebol praticado está a níveis bastante superiores aos dos campeonatos da Coreia/Japão e da Grécia. O que não é difícil, e sobretudo, ainda bem. As escorregadelas já têm acontecido, ainda ontem a Suécia mostrou mais uma vez que vale sempre a pena acreditar na capacidade de chegar ao golo, enfim, os dados de início vão ser todos baralhados. Tudo se joga na mente, mas também em estudar a lição. Portugal tanto pode ficar já nos oitavos-de-final como pode chegar à final.

Nova encruzilhada da nossa selecção

Depois do Europeu aqui estou eu de novo a debitar opiniões. Não gramo o Scolari e as comparações que são feitas dele com Otto Glória são totalmente desajustadas, mas o que é certo, é que já é a quarta vez consecutiva em que conseguimos um apuramento para fases finais (e, não fosse o desastroso consulado do Artur Jorge, quem sabe se o historial não vinha contínuo desde 1996...), Portugal está em boa posição no ranking mundial e é merecidamente respeitado como nação do futebol. Houve uma geração de ouro que se deixou perder na tradição de inconsequência que a precedia, e que ainda está representada pelo Luís Figo, e a ela talvez se siga uma nova geração de ouro que vai emergindo, com excelentes praticantes como Cristiano Ronaldo e Ricardo Carvalho, bem apoiada numa geração tampão onde pontificam Pedro Pauleta, Nuno Gomes, Simão Sabrosa, Luís Boa Morte, Costinha e Maniche, entre outros. Quero acreditar que a partir daqui é que vai ser, e este mundial vai ser o grande tira-teimas. Como o que interesa é o que se passa nas 4 linhas, quero lá saber quem é o treinador, desde que joguem bem e, de preferência, ganhem.
Vamos lá, cambada, daqui deste lado também eu vos apoio!